Ulsteinvik é conhecida pelos seus fiordes, pelos seus estaleiros navais e pelo "Viking supersónico". Ali, há 28 anos, nasceu a estrela dos 400 metros com barreiras, um atleta que começou "tarde" na sua especialidade, mas que já ganhou tudo: três Campeonatos do Mundo, dois Campeonatos da Europa e um título olímpico com recorde do mundo em Tóquio, nos Jogos de 2021.
A sua jornada épica começou um dia no verão de 2003. Karsten tinha sete anos quando um amigo o convenceu a participar na corrida organizada por um clube de atletismo local, perto da Câmara Municipal.
"Chegou de calças de ganga, sem roupa desportiva e passou por toda a gente. A partir daí, começou a praticar atletismo", recorda o seu fiel amigo, Kristian Mork.
"Também pratiquei atletismo durante anos, corri contra Karsten e o meu recorde no atletismo é essencialmente de medalhas de prata", acrescenta em tom de brincadeira.
A sala do tesouro
Na casa da família, nos arredores de Ulsteinvik, a coleção de Karsten contém inúmeras medalhas do metal dourado num quarto de criança que foi convertido numa sala de troféus.
A mais valiosa, a que ganhou na capital japonesa há quase três anos, saiu do cofre de forma excecional, tal como o sapato que usou no dia em que bateu o seu próprio recorde mundial: 45 segundos e 94 centésimos.
"Tentamos deixar um pouco de espaço para o caso de precisarmos dele", sorri Kristine Golin Haddal, mãe e agente do campeão.
Também ela foi atleta na sua juventude, enquanto o seu pai, Mikal Warholm, era futebolista.
Em criança, Karsten jogava futebol num dia e atletismo no dia seguinte. A sua grande descoberta no atletismo deu-se em 2011, aos 15 anos, nos campeonatos nacionais de pista coberta.
Num fim de semana, ganhou cinco medalhas de ouro: salto em comprimento, salto em altura, 60 m, 60 m com barreiras e 200 m. Nas fotografias desse dia, posou orgulhoso e sorridente, com um aparelho nos dentes.
"Gostava de praticar as diferentes disciplinas, dos desafios, de ver se conseguia fazer uma prova ou outra", recorda a mãe. Um espírito aberto e uma vontade férrea, com muitos treinos durante os anos do liceu.
"Treinava durante todo o ano, muitas vezes ao ar livre", recorda o seu antigo professor de desporto no liceu, Svein Ove Fylsvik.
"Acho que nem sempre era divertido, mas ele fazia tudo o que decidíamos, independentemente da chuva ou do vento", acrescenta.
Campeão do mundo de juniores em Donetsk
O trabalho valeu a pena. Em 2013, em Donetsk, na Ucrânia, Warholm ganhou o Campeonato do Mundo de Juniores de Octatlo (o equivalente júnior do decatlo), uma disciplina em que há muito se tinha concentrado.
"Os 400 metros não eram a sua prova favorita, era demasiado cansativa", diz Arve Hatloy, o seu treinador durante a juventude.
"Ele continuou a ser versátil e a jogar tudo até aos 18 ou 19 anos", continua.
"Mas teve dificuldade em destacar-se nas provas combinadas porque não era muito bom com o dardo", diz.
Depois de se mudar para Oslo em 2015, o futuro recordista mundial concentrou-se nos 400 metros com barreiras com o seu atual treinador, Leif Olav Alnes. O resto é história.
Em Ulsteinvik, a pista que ele correu milhares de vezes foi renovada e leva o nome do filho pródigo da cidade.
Entre os seus 9.000 habitantes e nas regiões circundantes, o "efeito Warholm" está a espalhar-se. O clube local, que antes tinha algumas dezenas de licenças, tem agora mais de 200.
Entre eles, o de Lovise Skarbøvik Andresen, que também é especialista em obstáculos: "Warholm mostra que se pode vir de um sítio pequeno e perdido, mas tornar-se o melhor do mundo."