Ben Binyamin celebrava o seu 29.º aniversário no festival de música Nova, palco do massacre de 364 pessoas pelos combatentes do Hamas.
Perdeu a perna direita quando os assaltantes lançaram quatro granadas contra um abrigo anti-bombas onde se tinha escondido com amigos.
"Nunca pensei que voltasse a jogar futebol", disse o antigo futebolista profissional à AFP, ainda a suar depois de uma sessão de treino em Ramat Gan, perto de Telavive.
"Tinha quase a certeza de que nunca mais seria capaz de andar, quanto mais de correr", defendeu.
No entanto, lá está ele de novo em campo, a correr com a ajuda de muletas e a mandar a bola para o fundo da baliza com um potente remate de pé esquerdo com aquela que era a sua perna má.
O ataque do Hamas fez pelo menos 1.160 mortos no sul de Israel, segundo uma contagem da AFP baseada em dados oficiais, e desencadeou uma guerra devastadora que se aproxima dos seis meses.
Em "retaliação", o exército israelita lançou uma ofensiva aérea e terrestre sobre Gaza que já fez quase 33.000 mortos, segundo o ministério da Saúde do território controlado pelo próprio grupo terrorista.
"A tua vida não acabou"
Dois dos colegas de Ben são soldados israelitas que perderam uma perna nos combates contra o Hamas na Faixa de Gaza.
Um deles foi atingido por um atirador numa emboscada. O outro ficou com um membro estilhaçado quando o veículo blindado em que seguia foi atingido por um foguete.
Também composto por vítimas de acidentes não relacionados com conflitos, Israel qualificou-se para o Campeonato Europeu de Futebol de Amputados, que se realizará em França entre 1 e 9 do próximo mês.
Zach Shichrur recrutou alguns dos jogadores quando estes ainda estavam a recuperar das lesões no hospital. "A vossa vida não acabou", disse-lhes.
Ele próprio é um bom exemplo: um autocarro esmagou-lhe o pé quando tinha oito anos. Depois de ter sido submetido a várias cirurgias e de décadas de sofrimento, este advogado decidiu que "talvez fosse melhor" amputar o pé.
"Foi uma decisão difícil, mas a melhor que alguma vez tomei", disse ele à AFP.
"Graças à prótese, posso fazer não só coisas que qualquer pessoa normal pode fazer, mas também coisas que nunca poderia ter imaginado, como surfar e fazer snowboard", acrescentou.
O processo foi "uma espécie de libertação" para ele, porque lhe deu "as asas com que sempre sonhei".
"Defender o seu país"
Fundador e capitão da seleção, Shichrur transmite a sua energia aos seus companheiros de equipa.
"É o privilégio da minha vida apoiar os meus amigos (...), rapazes que se levantaram quando não sabiam que se voltariam a levantar. Mostrámos que não só se pode retomar uma vida normal, como também se pode jogar com uma perna e defender o nosso país", afirma.
"Quando penso em mim, um rapaz de oito anos que queria ser jogador de futebol e a quem os médicos pediram que desistisse desse sonho (...), podem imaginar como é importante para mim", acrescenta Shichrur, que também dá aulas de ioga.
A equipa tem outros talentos, como o avançado Ben Maman, de 20 anos, um dos jovens jogadores mais promissores de Israel até ter perdido a perna quando foi atropelado por uma mota.
Gaza também tem uma equipa de futebol de jovens amputados. Mas mesmo que a guerra acabasse amanhã, Ben não vê qualquer hipótese de israelitas e palestinianos lutarem entre si.
"Não posso acreditar na paz porque eles só querem a nossa destruição", rematou.