"Estamos a ser inundados pelo fluxo de mensagens e pedidos", declarou à AFP Brahim Rabii, representante do distribuidor oficial de um clube cuja cidade se situa no nordeste do país, perto da fronteira argelina.
A 21 de abril, a primeira mão das meias-finais da Taça da Confederação Africana de Futebol (CAF) entre o RS Berkane e o USM Algiers foi anulada à última hora, depois de as autoridades do país vizinho terem apreendido todas as camisolas da equipa marroquina.
O jogo da segunda mão, marcado para domingo, também não se realizou depois de os jogadores do USM se terem retirado antes do pontapé de saída, o que permitiu ao Berkane qualificar-se para a final, que se disputará no Cairo, em maio, contra o Zamalek do Egipto.
Antiga colónia espanhola, este vasto território é maioritariamente controlado por Marrocos, mas é reivindicado pela Frente Polisário saharaui, apoiada pela Argélia.
"Os marroquinos estão a demonstrar uma paixão desenfreada pelas camisolas de Berkane. O seu fervor não tolera qualquer ataque à pátria ou ao território nacional", afirma Rabii, referindo-se ao Sahara Ocidental, considerado pela ONU como um "território não autónomo", cujo estatuto está ainda por determinar.
Em Berkane, Soufiane Al Korchi, outro representante do distribuidor oficial, afirma que a procura "aumentou consideravelmente em todas as cidades e mesmo fora do país" na sequência do recente diferendo com a Argélia.
"Mensagem política"
Após o confisco das peças de vestuário, a 19 de abril, o presidente da Federação Argelina de Futebol (FAF), Walid Sadi, ofereceu ao clube marroquino "camisolas de alta qualidade" sem o mapa de Marrocos, o que foi recusado pelos jogadores rivais.
Este episódio teve "um efeito imediato", explicou Toufiq Jouit, um adepto do clube marroquino, solicitado na loja oficial do Berkane, onde são vendidas a partir de 200 dirhams (18,50 euros) em várias versões, branca, preta ou laranja.
"Este incidente colocou a camisola na ribalta internacional, suscitando um grande interesse entre os adeptos de futebol", disse à AFP.
Soufiane Al Korchi sublinha que o mapa "faz parte do design há três anos, não é uma novidade, mas sim um elemento de identificação que acompanha o clube há vários anos".
A CAF deu o aval à equipa marroquina após a primeira mão, considerando que o Berkane tem jogado com ele desde o início do torneio, dando-lhe uma vitória por 3-0.
A federação argelina anunciou um recurso para o Tribunal Arbitral do Desporto (TAD) em Lausanne (Suíça), argumentando que a camisola contém "uma mensagem política", algo proibido por organismos como a FIFA.
Enquanto aguarda a decisão do TAD, o RS Berkane já se prepara para a final da segunda competição de clubes de África, equivalente à Liga Europa.
"Há quase 20 dias que não jogamos uma partida, nem mesmo um amigável", lamenta o técnico Mouine Chaabani. "Nada substitui a competição", acrescentou o treinador, que tentará compensar a inatividade "com sessões de treino".